O Temido Último Post

A quem interessar possa, venho informar que este blog está sendo "fechado"; ele continuará disponível por algum tempo, mas nada de novo será postado. Em algum ponto indeterminado do futuro, ele deverá desaparecer.
Já há alguns meses eu venho alimentando a ideia de traduzir meu trabalho e eventualmente passar a escrever somente em inglês. O plano inicial era o de fazê-lo concomitantemente com a criação e postagem de novos textos, até que todos os antigos estivessem transpostos; isso, porém, se mostrou impossível (a não ser que eu abdicasse de minha regra auto-imposta de publicar alguma coisa ao menos uma vez por mês, e isso sempre esteve fora de questão). Eu precisei escolher me dedicar integralmente à tradução, e determinar que este blog devesse "congelar" em algum momento. Este momento é agora.
Assim, portanto, um outro local será criado, tão logo quanto conteúdo suficiente esteja disponível; quaisquer novos absurdos que eu venha a conceber até lá nascerão já contaminados por um thought-process na língua d'O Bardo, e serão postados junto a seus predecessores de forma aleatória. Talvez esse transcurso todo merecesse um ensaio próprio; mas aí já são outros quinhentos.
Por fim, adianto que, assim que o novo blog houver sido criado e posto em marcha, eu virei editar esta postagem para ofertar o link a quem quer que seja que venha a calhar por aqui. Até lá, deixo meu muito obrigado a todos que acompanharam esta bobagem, e meu see you soon aos que ainda não perderam o suficiente de sua sanidade.

Má Fé

Não. Eu já disse mil vezes, e vou dizer mais mil se for necessário: eu não sou um charlatão. Os senhores me desculpem, eu desconheço a definição legal de “charlatanismo”; mas em termos de moral, do que é certo e do que é errado, não tenho dúvidas de que essas acusações são infundadas.
Digam-me: pergunta-se a todos os médicos que intenções os levaram ao juramento hipocrático? Quantos, imaginem, não o fazem também por dinheiro? Ou por status? Não existem essas “dinastias”, vamos dizer, em que o ofício passa de pai para filho com a maior naturalidade? A intenção é irrelevante. Ninguém questiona a de um médico em sua profissão, desde que ele possua as credenciais necessárias e seja competente no que faz.
Por que a comparação não seria válida? Eu sou o primeiro a reconhecer que a astrologia é uma pseudociência (do contrário nós nem estaríamos aqui, não é verdade?), mas o meu argumento se mantém: é absurdo que se use a opinião pessoal de um profissional como critério para desqualificar sua conduta ética.
Não é cabível tampouco levar em consideração apenas um ou dois testemunhos escolhidos a dedo, com todo o respeito. Via de regra, os clientes não mudam suas convicções de uma visita a outra: os céticos, claro, tendem sempre a atribuir qualquer eventual acerto a mera casualidade; os crentes, por outro lado, antes deformam a visão que têm de si mesmos do que suas crenças. É justo (e lógico) dizer que nós raramente somos procurados por aqueles que entendem, eles próprios, da disciplina.
O que os senhores precisam aceitar é que a astrologia é um sistema de conhecimento muito bem definido, por arbitrários e irracionais que sejam seus preceitos. Ainda que um verdadeiro vigarista saiba sempre se expressar de forma dúbia a fim de mascarar seu embuste, existe, por exemplo, um modo certo de se interpretar cada elemento de um mapa astral. É possível estabelecer, de forma plenamente objetiva, o quão capacitado um astrólogo é; nesse sentido, a justiça faria melhor em acusar esses pastores que andam por aí criando e recriando seus próprios dogmas.
Se bem que os parâmetros da acusação pareçam variar de caso a caso, não é mesmo?
Enfim, para concluir, gostaria de dizer que minha consciência permanece imaculada. É verdade, sim, que eu considero a astrologia um monte de bobagens sem fundamento, não me envergonho de repeti-lo; a questão é que eu passei anos de minha vida estudando esse besteirol (visando, sim, o lucro; quem dos senhores nunca houver cedido à ganância que atire a primeira pedra), e penso ser o maior especialista no assunto da região, senão de todo o país. Muitos de meus “colegas” entram para a profissão porque acreditam piamente ter um dom: agem por instinto, ignoram regras, e ainda assim são deixados em paz para trabalhar; mas entre um cético qualificado e um assecla incompetente, eu devo lhes perguntar, quem de fato é o charlatão?

Queimadura

Que doa, mas que se cure
Ferida aberta
Que arda, mas cicatrize
E se costure

Os olhos da cara;
Ainda que cegos
Que se fortaleçam
As mãos e os peitos

E que o medo, mesmo cortante
Não seja mais
Que medo

Que sangre, mas que sossegue
Os calafrios
Que retorça e que lateje
Mas deixe livre

O suor da pele;
Mesmo febris
Que não descansem
Línguas e lábios

E o desamor, mesmo cruel
Não seja mais
Que medo

Possa a mesmice
Massacrante
Não iludir
Nem ser masmorra
A nenhum grito

Queimadura lave o corpo
E deixe escrito:
“Ainda não,
Ainda não”